Sub-reino Parazoa

Deste sub-reino apenas fazem parte as esponjas, animais que constituem indubitavelmente como um grupo muito antigo, existindo provas da sua existência desde o Câmbrico mas a sua relação com os restantes animais é algo obscura, principalmente devido à sua simplicidade, sem paralelo no reino, mas também devido a alguns aspectos muito estranhos da sua embriologia.

Esponjas tropicais

As esponjas são animais sem simetria ou com simetria radiada, diploblásticos e sem cavidade digestiva, apresentando digestão totalmente intracelular.

Todas as esponjas são sedentárias e coloniais, vivendo em meio aquático (água doce ou salgada), geralmente da linha da maré baixa até profundidades que atingem os 5500 metros. 

Crescem sempre aderidas a substratos imersos, como madeira, conchas, rochas, etc. Muitas apresentam um aspecto quase vegetal (tendo sido consideradas plantas durante muitos séculos), embora possam ser brilhantemente coloridas. A sua natureza animal apenas foi reconhecida em 1765 mas a sua posição sistemática permaneceu incerta até 1857.

A simplicidade da estrutura das esponjas é tal que, se forem trituradas e passadas por uma peneira, de modo a separar as suas células, estas poderão reagrupar-se e formar novamente uma esponja, em tudo semelhante à original. 

As células do corpo das esponjas apresentam mesmo um certo grau de independência, sem coordenação por células nervosas. Não apresentam, portanto, tecidos verdadeiros, nem sistemas de órgãos. Outro aspecto intrigante da biologia das esponjas é o facto de serem os únicos animais cuja abertura principal do corpo é exalante. No entanto, a maioria das esponjas reage ao toque, especialmente em volta da sua abertura principal, embora os estímulos sejam conduzidos lentamente, provavelmente célula a célula.

Por todos estes motivos, as esponjas foram colocadas fora do ramo principal da evolução dos invertebrados, no sub-reino Parazoa.              TOPO

Filo Porifera

Estrutura corporal de esponja simples

As esponjas são organismos imóveis mas capazes de movimentar a água em seu redor. 

As partículas alimentares em suspensão penetram no corpo da esponja através de poros microscópicos – poros inalantes - na sua parede lateral e a água filtrada é retirada através de uma abertura maior – ósculo – na zona oposta á base. 

Em certas espécies, o ósculo pode ser lentamente fechado. O ósculo encontra-se quase sempre acima do resto do corpo do animal, uma adaptação importante pois evita a recirculação de água á qual já foram retirados alimento e oxigénio e adicionados resíduos. Em mais nenhum animal a abertura principal do corpo é exalante, como neste caso, mais uma excentricidade das esponjas.

A parede do corpo das esponjas delimita uma cavidade central, o átrio ou espongiocélio. Em certas esponjas mais complexas não existe apenas uma cavidade central mas um labirinto de canais e câmaras cobertas de células flageladas – câmaras vibráteis.

A respiração e a excreção são feitas directamente por difusão com o meio aquático, pelo que as esponjas não suportam águas estagnadas.

A parede do corpo das esponjas é formada por diversos tipos de células, sustentadas por elementos esqueléticos de vários tipos:

  • Pinacócitos – células achatadas de revestimento da parte externa, formando uma espécie de epiderme por vezes designada pinacoderme (embora não seja um verdadeiro tecido);

Coanócitos de uma câmara vibrátil vistos ao M.E.
  • Coanócitos – células flageladas com uma expansão membranosa em forma de colarinho,  que revestem o espongiocélio e outras câmaras vibráteis internas das esponjas. O movimento dos seus flagelos cria a corrente de água que traz nutrientes e gases. Os nutrientes são filtrados pelo “colarinho” da célula, que não é uma estrutura sólida mas antes um conjunto de pequenos bastonetes erectos e separados por espaços. Qualquer partícula orgânica ou microrganismo planctónico aprisionado no colarinho é encaminhado para baixo, em direcção ao corpo celular e endocitado, ocorrendo uma digestão intracelular, em vacúolos digestivos. Posteriormente os nutrientes são difundidos para a mesogleia ou célula a célula;

 

  • Amebócitos – células livres de vários tipos que se deslocam por movimentos amebóides, presentes no mesênquima ou mesogleia (substância gelatinosa localizada entre as camadas de pinacócitos e coanócitos) e que são responsáveis pelo crescimento e capacidade de regeneração, pois podem originar todos os restantes tipos de célula (excepto os coanócitos) e produzir as espículas do esqueleto. Estas células podem, ainda, transferir os nutrientes presentes na mesogleia para as restantes células e retirar os produtos de excreção para o espongiocélio. São, ainda, responsáveis pela formação dos gâmetas;

 

  • Porócitos – células dotadas de um poro central, designado poro inalante, que as atravessa de lado a lado. Localizam-se a espaços regulares na parede do corpo da esponja, sendo através delas que a água penetra no espongiocélio. Estas microscópicas aberturas podem ser reguladas pelo animal.

Os elementos esqueléticos das esponjas podem ser de dois tipos básicos:

  • Fibras proteicas – formadas por uma proteína córnea designada espongina, uma substância insolúvel e resistente à digestão por enzimas proteolíticas. A espongina dispõe-se irregularmente no mesênquima;

  • Espículas minerais – estes elementos podem ser compostos por dois tipos de minerais:  

    • Carbonato de cálcio – espículas formadas por CaCO3, podem apresentar formas variadas, desde simples eixos rectos a formas complexas e ramificadas;

    • Sílica – espículas formadas principalmente por H2Si3O7, são geralmente complexas e podem fundir-se, originando uma estrutura relativamente sólida nas chamadas esponjas-de-vidro. 

 

Espículas calcárias Esponja de Vidro

A reprodução das esponjas pode ser assexuada, por fragmentação ou gemulação, originando colónias de grandes dimensões. 

Este tipo de reprodução ocorre por migração de pequenos grupos de amebócitos para a superfície da esponja e resulta do surgimento de condições desfavoráveis como o frio ou seca, principalmente em água doce.

A reprodução sexuada é bastante peculiar, principalmente a nível do desenvolvimento larvar. 

Anfiblástula de uma esponja

As esponjas podem ser hermafroditas ou gonocóricas, permanecendo os óvulos na mesogleia e sendo os espermatozóides libertados para o espongiocélio e daí para o exterior, logo a fecundação é interna.

Não existem verdadeiras gónadas nas esponjas, sendo os óvulos formados a partir de amebócitos e os espermatozóides de amebócitos ou coanócitos. Se estes espermatozóides encontrarem outra esponja da mesma espécie, ocorrerá a fecundação e formar-se-á um zigoto.

O zigoto sofre diversas divisões que originam oito células: quatro grandes são os futuros pinacócitos e quatro pequenas que são os futuros coanócitos. Os micrómeros crescem e adquirem um flagelo, virado para o blastocélio.

Forma-se a boca entre os macrómeros e através dela o embrião sofre uma inversão que leva as células flageladas para o exterior, originando uma anfiblástula. É neste estádio do desenvolvimento embrionário que a larva oval escapa pelo ósculo da progenitora e nada durante algumas horas, com as células flageladas viradas para a frente.

Eventualmente a larva fixar-se-á ao substrato e a metade flagelada sofre uma invaginação ou é recoberta pelos macrómeros, num processo de gastrulação exactamente oposto ao de todos os metazoários e que é um dos principais argumentos para a inclusão destes animais num sub-reino à parte. Nas espécies de esponja em que não se formam larvas deste tipo, a larva diz-se parenquímula e é totalmente coberta por células flageladas. No entanto, o processo de inversão ainda acontece, logo pode dizer-se que o desenvolvimento é indirecto neste filo.

As esponjas raramente são atacadas por outros animais, provavelmente devido ao seu esqueleto e às secreções e odores desagradáveis que produzem. Os seus principais predadores são moluscos do tipo nudibrânquio, embora em meio de água doce larvas de algumas espécies de insecto possam alimentar-se delas.

As cavidades internas das esponjas são habitadas por grande número de organismos, desde crustáceos a vermes e moluscos. Num estudo realizado nos anos 80 do século passado, foram contados 17128 animais a viver no interior de uma esponja com cerca de um metro. Estes eram principalmente crustáceos do tipo camarão mas muitas outras espécies estavam representadas, incluindo peixes com 13 cm de comprimento.

Algumas espécies de caranguejo eremita recolhem pequenos pedaços de esponjas e colocam-nos sobre a carapaça emprestada onde vivem, provavelmente porque esta é um bom meio de manter predadores afastados.

Em alguns casos, o crescimento de esponjas sobre as carapaças de moluscos bivalves pode levar à destruição da concha e o animal vive realmente numa cavidade da esponja. Esta situação pode ter implicações económicas nas culturas de ostras e outros bivalves.                   TOPO

Temas relacionados:

Reino Animalia    Sub-reino Eumetazoa

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