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Composição
química da célula
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A
análise química elementar da matéria viva diz-nos que apenas 22 dos mais de
100 elementos químicos são essenciais aos seres vivos e destes, apenas 16
podem ser encontrados em todas as espécies.
Estes
16 elementos encontram-se nos seres vivos em proporções muito diferentes das
do meio físico, sendo 99% da massa das células composta por carbono,
hidrogénio, oxigénio e azoto. O sódio, potássio, magnésio, cálcio,
enxofre, fósforo e cloro representam entre 1 a 2% da massa total das
células. Os restantes elementos surgem em quantidades inferiores a 0,01% e
são, por isso, designados oligoelementos.
De
todos os compostos, a água é o mais abundante na célula, atingindo 95% da
sua massa total, servindo de meio de dispersão para as restantes moléculas e
ajudando na sua interacção.
Os
compostos orgânicos caracterizam as células pois não existem no meio
físico, sendo por isso chamados biomoléculas. Nas biomoléculas incluem-se
os glícidos os lípidos, os prótidos e os ácidos nucleicos.
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Átomos e ligações
químicas
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Fundamental para a compreensão
das biomoléculas que compõem as células é a composição do átomo.
Todos os elementos são
formados por átomos, por sua vez formados por partículas menores: protões e
neutrões (concentrados no núcleo) e electrões, que orbitam o núcleo.
No núcleo está concentrada a
massa do átomo, embora o seu diâmetro seja muito menor que o do átomo (por
vezes descrito como uma mosca no centro de um campo de futebol). Os protões,
carregados positivamente, estão em número constante em todos os núcleos de
átomos do mesmo elemento, identificando esse elemento pelo chamado número
atómico.
Os neutrões têm a mesma massa
que os protões e também se localizam no núcleo mas não têm carga, são
electricamente neutros. O número de neutrões pode variar em átomos do mesmo
elemento, dando origem a isótopos, sem que se alterem as propriedades
químicas do átomo. No caso do hidrogénio, por exemplo, existem 3
isótopos:
- um protão - prótio ou
hidrogénio-1
- um protão + um neutrão -
deutério ou hidrogénio-2
- um protão + dois neutrões
- trítio ou hidrogénio-3
Somando o número de protões e
neutrões do núcleo dos átomos obtém-se o número de massa, que
caracteriza cada isótopo, pois revela a diferença no número de neutrões.
Os isótopos do mesmo elemento são quimicamente semelhantes, podendo mesmo
substituir-se entre si, mas têm comportamento físico diferente devido à
massa diferente.
Os electrões são muito
menores, com carga eléctrica igual mas de sinal contrário à dos protões,
movendo-se como uma nuvem em volta do núcleo. O átomo é geralmente neutro
porque existem tantos electrões negativos como protões positivos.
O átomo representa-se através
do seu símbolo químico (composto por uma ou duas letras) com o número de
massa em cima à esquerda e o número atómico em baixo à esquerda.
Os electrões dispõem-se em
volta do núcleo em camadas electrónicas, designadas 1,2, 3, etc. de acordo
com a distância a que se encontram. Cada uma destas camadas têm uma
lotação determinada: primeira camada 2 electrões, última camada 8
electrões e as camadas intermédias (N) terão N electrões, ou seja, N = 2n2
em que n é o número da camada.
No entanto, a maioria dos
átomos tem a última camada electrónica incompleta, tendendo por isso a
ligar-se a outros para adquirir a configuração dos gases raros. Os
electrões da última camada designam-se electrões de valência e são
os que intervêm nas ligações químicas. O objectivo do estabelecimento de
uma ligação química é que, em volta de cada núcleo, o número de
electrões passe a ser igual a 2 ou a 8.
Todos os electrões têm a
mesma massa e carga electrónica mas o seu nível de energia varia com a
distância ao núcleo: quanto mais perto do núcleo maior a atracção nuclear
e menor é o nível de energia. Ao percorrer cada órbita o electrão não
sofre variações de energia mas se ela lhe for fornecida, de modo a vencer a
atracção nuclear, pode acontecer que:
- o electrão passe para um
nível de energia superior - excitação;
- o electrão abandone o
átomo transformando-o num catião (ião positivo) - ionização.
Quando o electrão excitado
retorna ao seu nível tradicional de energia liberta exactamente a mesma
quantidade de energia que provocou a sua excitação. Esta situação é comum
em fenómenos associados a radiações luminosas, como a fotossíntese, mas
podem acontecer através de outras fontes de energia, como no caso da
respiração. Todos estes fenómenos tanto podem acontecer com átomos, como
com moléculas.
Existem diversos tipos de
ligação química mas todas têm como objectivo formar em volta de cada
núcleo atómico uma configuração de gás raro. As ligações químicas
podem ser:
- ligação covalente -
trata-se de ligações formadas por partilha de electrões, ou seja, os
núcleos aproximam-se e os electrões passam a girar em volta dos dois
núcleos;
- ligação iónica -
esta ligação resulta da atracção entre iões produzidos pela
transferência de electrões de átomos com tendência para os perderem
para átomos com tendência para os receberem. A atracção deve-se à
existência de iões de sinal contrário mas carga igual.
Para quebrar uma dada ligação
entre dois átomos é necessário despender (ou fornecer aos átomos) uma dada
quantidade de energia. É essa energia, geralmente sob a forma de calorias,
que nos indica a força de uma ligação.
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Moléculas
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Da ligação
química entre átomos resultam moléculas, algumas formadas por um conjunto
de átomos iguais e outras com átomos diferentes, ou seja, substâncias
simples e compostas, respectivamente.
Certos
conjuntos de átomos surgem nas moléculas de vários compostos, conferindo a
esses compostos propriedades semelhantes e designando-se por radicais ou
grupos característicos. Os principais radicais que podem ser encontrados nas
moléculas orgânicas são:
-
grupo
hidroxilo - representado por -OH, este radical é característico dos
álcoois pois são esses os compostos obtidos pela substituição de um ou
mais átomos de hidrogénio pelo radical -OH ligado covalentemente. O
radical -OH pode localizar-se em qualquer local da cadeia num 'esqueleto'
hidrocarbonado. À temperatura ambiente são sempre líquidos ou sólidos,
como por exemplo, o álcool etílico ou o glicerol;
-
grupo
carboxilo - representado por -COOH, este radical confere
características ácidas e apenas se pode localizar na extremidade de uma
cadeia hidrocarbonada. São exemplos destes ácidos, o ácido acético ou
o láctico;
-
grupo
amino - característico das aminas, deriva do amoníaco (NH3)
por substituição de um dos hidrogénios por radicais orgânicos, levando
a que o átomo de azoto fique ligado directamente a um átomo de carbono.
Nos aminoácidos surge em simultâneo com o grupo carboxilo, ligados a um
átomo central de carbono que também se liga a um hidrogénio e a um
radical orgânico. São exemplos de aminas a metilamina e todos os
aminoácidos;
-
grupo
aldeído - representado por -CHO e também conhecido por grupo
carbonilo, é característico dos aldeídos, como por exemplo o
formaldeído ou o acetaldeído;
-
grupo
cetona - representado por -CO e característico das cetonas, difere
dos aldeídos por apresentar o grupo carbonilo C=O ligado a dois radicais
orgânicos R-CO-R, como acontece, por exemplo, na dimetilcetona.
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Tipos de reacções
químicas
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A energia química total da
molécula é a energia necessária para quebrar todas as suas ligações
atómicas. Quando as ligações são quebradas os átomos podem ligar-se de
modo diferente, ou seja, pode ocorrer uma reacção química. Numa
reacção química o número tipo de átomos dos reagentes é o mesmo
que nos produtos da reacção.
Para que ocorram reacções
químicas são necessárias algumas condições, nomeadamente:
- colisão entre as moléculas
reagentes (quanto maior a taxa de colisões maior a velocidade de
reacção);
- energia de activação
- a existência deste tipo de energia aumenta o movimento das moléculas,
logo vai exponenciar as colisões entre elas e, consequentemente, a
velocidade de reacção.
Os organismos vivos realizam as
suas reacções químicas com grande eficiência pois não desperdiçam
energia sob a forma de calor e porque acumulam poucos resíduos, por
comparação com as reacções inorgânicas. Isto só é possível por
realizam as reacções em sequência, onde cada etapa utiliza como reagentes
os produtos da etapa anterior.
Existem vários tipos de
reacções químicas mas em bioquímica as mais importantes são:
- reacção de síntese -
várias substâncias ligam-se originando um único produto: A + B » AB
- reacção de
decomposição - também dita de análise, neste caso uma dada
substância é decomposta em substâncias menores: AB » A + B;
- reacção de dupla
decomposição - neste caso, átomos ou radicais trocam de lugar entre
os reagentes: AB + CD » AC + BD. Um importante exemplo deste tipo de
reacção são as hidrólises R-R' + H-OH » R-H + R'-OH e as suas
reacções inversas, as condensações R-H + R'-OH » R-R' + H-OH;
- reacção de
oxidação-redução - também conhecidas por reacções redox,
são reacções em que há transferência de electrões entre
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Esquema
simplificado de uma reacção redox |
moléculas. A oxidação
pode ser definida como a perda de electrões e a redução como o
ganho de electrões. Assim, percebe-se que as oxidações e as reduções
têm que ocorrer sempre simultaneamente, pois é impossível um electrão
permanecer isolado. O átomo ou molécula que sofre oxidação é o redutor
e o que sofre redução é o oxidante.
Dado que para existir uma
reacção química é necessário que certas ligações químicas se quebrem e
outras se formem, deste balanço podem resultar dois tipos de reacções:
- reacções exergónicas -
quando as ligações que se formam são mais fortes que as que se
quebraram há libertação de energia. Esta energia é frequentemente
libertada sob a forma de calor, pelo que é frequente as reacções
exergónicas serem também exotérmicas;
- reacções endergónicas
- quando as ligações que se formam são mais fracas que as que se
quebram há uma absorção de energia. Se a energia absorvida tiver sido
sob a forma de calor, a reacção endergónica também será endotérmica.
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Moléculas constituintes
das células
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Nas células
actuais, tanto procarióticas como eucarióticas, existem 5 tipos de componentes
químicos principais, onde se incluem quatro categorias de biomoléculas e uma
molécula inorgânica:
-
água;
-
glícidos;
-
lípidos;
-
prótidos;
-
ácidos
nucleicos.
As
biomoléculas têm algumas características fundamentais e que as definem:
-
têm
grande dimensão e peso molecular, sendo por isso designadas
macromoléculas;
-
têm
grande variedade dentro de cada grande categoria;
-
a
sua estrutura é muito complexa mas formada por um reduzido número de
unidades estruturais básicas, ou seja, são polímeros de monómeros;
-
formam
estruturas altamente organizadas e com função específica, como a
celulose ou a hemoglobina, por exemplo.
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Água
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Três quartos da
superfície da Terra estão cobertos de água, o que significa que se o planeta
fosse plano, toda a sua superfície estaria debaixo de 2,5 Km de água.
Nitidamente, a designação correcta para o nosso planeta seria Água e não
Terra ...
A água é uma
molécula extraordinária, apesar de comum, se não fossem as suas propriedades
invulgares a Vida não teria surgido na Terra, ou pelo menos não como a
conhecemos pois entre 50 e 90% do peso corporal dos organismos vivos corresponde
a esta molécula.
No seu todo a
molécula de água é electricamente neutra pois tem igual número de protões e
electrões. No entanto, os electrões partilhados nas ligações covalentes
ficam bem mais próximos do oxigénio que do hidrogénio, causando um excesso de
carga negativa em volta do O e uma carência de carga negativa em volta dos H,
tornando a molécula polar.
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Estrutura
da molécula de água e ligações por pontes hidrogénio (pontes H) |
A polaridade da
água permite a formação de ligações, seja entre moléculas de água seja
com outro tipo de molécula, através de pontes hidrogénio. Este tipo de
ligação é devida a forças electrostáticas entre os H+, ligado
covalentemente a um átomo de oxigénio ou azoto, e outro átomo de oxigénio ou
azoto.
Deste modo, as
moléculas de água podem ligar-se a 4 outras moléculas por pontes hidrogénio,
situação responsável pelo facto de a água ser líquida à temperatura
ambiente, enquanto moléculas como o amoníaco se evaporam rapidamente. Outro
exemplo de uma molécula de estrutura semelhante à água em condições normais
é um gás é o sulfureto de hidrogénio, libertado pelos vulcões e altamente
tóxico.
Esta polaridade
justifica também a maior parte das propriedades da água:
-
capacidade
de dissolução;
-
elevado
ponto de ebulição e fusão;
-
elevado
calor de vaporização - quantidade de calor necessária para passar uma
grama de líquido a vapor, que neste caso é elevado precisamente devido à
grande estabilidade causada pelas ligações por ponte hidrogénio;
-
elevado
calor específico - quantidade de calor necessária para que a
temperatura de um líquido suba 1ºC, no caso da água é elevado o que faz
com que as variações de temperatura da água sejam lentas;
-
elevada
força de coesão e adesão com viscosidade baixa - a coesão (força de
ligação entre moléculas iguais) e a adesão (forças de ligação entre
moléculas diferentes) são fundamentais para a elevação da água no
tronco de uma árvore ou para a capilaridade mas como a viscosidade ainda
assim é baixa, a difusão de solutos em soluções aquosas é muito fácil;
-
elevada
tensão superficial - a coesão entre moléculas de água devido à
polaridade e às pontes H permite que um insecto como o alfaiate
literalmente ande sobre água;
-
aumento de
volume durante a congelação - devido ao rearranjo espacial das
moléculas de água, o gelo flutua, permitindo que apenas uma fina camada de
água congele nos mares, rios e lagos, mantendo-se as águas abaixo no
estado líquido e a temperaturas aceitáveis para a Vida;
-
absorção
de radiações - a água é praticamente transparente às radiações
visíveis, embora haja uma ligeira absorção na zona do vermelho (daí as
grandes massas de água serem azuis ou esverdeadas) mas absorve fortemente
na zona do infravermelho (calor).
A água líquida,
dadas as numerosas ligações por pontes H, forma uma gigantesca macromolécula
em cada lago, rio ou oceano.
No gelo, a água
está numa estrutura altamente regular de malha hexagonal, deixando um espaço
livre no centro de cada hexágono (por isso o gelo flutua sobre a água
líquida). Com a fusão, a água passa a uma malha quadrangular com um espaço
central menor, o que explica o motivo porque a água líquido ocupa menos
espaço que o gelo. Esta situação é invulgar pois na fusão há um aumento da
energia das moléculas e a maior parte dos líquidos têm as suas moléculas
mais afastadas que os sólidos.
A água é
considerada o solvente universal, pois é capaz de dissolver mais substâncias
que qualquer outro líquido, sejam elas polares (hidrofílicas), que formam
pontes H ou iões que fiquem aprisionados em 'gaiolas' de água. As moléculas
apolares (hidrofóbicas) geralmente não se dissolvem em água, embora algumas
possam permanecer nos espaços entre elas.
Eis alguns
exemplos clássicos das capacidades de dissolução da água:
Dissolução
da sacarose (molécula apolar) |
Dissolução
do cloreto de sódio (composto iónico) |
Dissolução
do cloreto de hidrogénio ou ácido clorídrico (composto covalente
polar) |
Os
cristais de sacarose difundem-se pela água uniformemente ligando-se à
água através de pontes hidrogénio. |
O
vulgar sal de cozinha é formado pelos iões Na+ e Cl-
logo existem forças de atracção entre as moléculas polares da água
e estes iões: o catião sódio atrai o pólo negativo da molécula de
água e o anião cloro atrai os pólos positivos. Os iões libertam-se
da superfície do cristal e permanecem em meio líquido, isolados e
totalmente envolvidos por moléculas de água (hidratados). Ficam,
portanto, uniformemente distribuídos pela solução através de uma
fenómeno conhecido por dissociação. |
Dada
a polaridade de ambas as moléculas, há atracção entre os respectivos
pólos opostos. Esta atracção é tão forte que quebra as ligações
covalentes entre o hidrogénio e o cloro, permanecendo, no entanto, o
electrão com o núcleo de cloro. Assim, obtêm-se aniões cloro
totalmente envolvidos por moléculas de água (hidratados) e catiões
hidrogénio, que são atraídos para o pólo negativo da água e
originam o catião hidrónio H3O+. Este processo
designa-se ionização. |
Para além disso,
a água também é considerada um catalisador universal, pois devido ao seu
carácter polar favorece a ionização de muitas moléculas. É este o motivo
porque a maioria das reacções in vivo serem reacções redox e o
oxigénio e o hidrogénio serem participantes activos nelas.
Na água líquida
há tendência para um dos hidrogénios de uma molécula se ligar ao oxigénio
de outra, originando dois iões: OH- e H3O+. A
água pura continua a ser neutra electricamente pois existe sempre o mesmo
número de cada um dos iões (eles formam-se à custa um do outro) mas em
soluções aquosas com outros componentes isso nem sempre se verifica:
Para definir o
grau de acidez de uma solução utiliza-se a escala de pH, ou seja a 'potência
a que se eleva a concentração do catião H. Na água pura tem-se 1/10000000
mol de catião H, ou seja, [H+] = 10-7 ou seja pH = 7.
Desta forma, se o pH de uma solução for inferior a 7 então a concentração
do catião H será maior que a da água pura e a solução será considerada
ácida, o inverso para um pH superior a 7, onde a solução será considerada
básica.
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Glícidos
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Os glícidos
formam um dos maiores grupos de substâncias naturais. São centro de processos
metabólicos através dos quais os seres vivos acumulam energia luminosa
(fotossíntese) ou da que é libertada durante a oxidação dos alimentos
(respiração). São a mais importante fonte de energia para animais e plantas,
podendo também ter função de reserva e estrutural. Até a vitamina C é um
glícido.
Os glícidos
foram inicialmente classificados como hidratos de carbono devido ao facto de
serem biomoléculas compostas por carbono, hidrogénio e oxigénio e por se
considerar que tinham origem na hidratação do carbono: Cn(H2O)m.
No entanto, os glicídeos não se formam por hidratação do carbono e a
fórmula genérica anterior não inclui todas possibilidades para esta
biomolécula: a desoxirribose C5H10O4 é um
glícido não pode ser a ela reduzida e o ácido acético C2(H2O)2
pode ainda que não o seja.
Assim, a
definição correcta de glícido refere que são aldeídos ou cetonas
polihidroxilados. As propriedades comuns das moléculas devem-se precisamente à
existência de um ou vários radicais -OH e de, pelo menos, um grupo aldeído ou
cetona.
Os glícidos são
classificados em função da complexidade das suas moléculas, distinguindo-se 3
grandes grupos:
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Monossacáridos
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São os glícidos
mais simples, com uma molécula formada por um único monómero. São as
unidades básicas da construção dos glícidos mais complexos.
O número de
átomos de carbono da molécula serve de base à classificação dos
monossacáridos:
-
diose - dois
carbonos, apenas existe um exemplo o aldeído glicólico;
-
triose -
três carbonos, como por exemplo gliceraldeído, hidroxicetona;
-
tetrose -
quatro carbonos, como por exemplo eritrose, ribulose;
-
pentose -
cinco carbonos, como por exemplo ribose, desoxirribose;
-
hexose - seis
carbonos, são as formas energéticas dos glícidos, como por exemplo
glicose, frutose, galactose;
-
heptose -
sete carbonos, como por exemplo heptulose.
Note-se que o
monossacárido mais simples terá que conter um radical -OH e uma função
aldeído logo tem que ter dois carbonos (H-COOH é um ácido carboxílico pois
os radicais carbonilo e hidroxilo estão no mesmo carbono). Conforme
a função presente no monossacárido, têm-se aldoses (grupo aldeído) e as
cetoses (grupo cetona). A função aldeído e a cetona, ainda que em menor grau,
pode ser oxidada, originando um ácido carboxílico: R-C=O (H) + O -> R-C=O
(OH) Esta
oxidação é muito fácil o que torna os monossacáridos aldeídicos redutores.
A oxidação pode dar-se em presença de reagentes particulares como o Licor de
Fehling, que, por ter uma reacção colorida, é um indicador da presença de
açúcares redutores:
R-C=O (H) + 2 CuO
-> R-C=O (OH) + Cu2O Note-se
que todas as moléculas de hexose têm o mesmo número de átomos constituintes
C6H12O6, no entanto as suas propriedades são
diferentes devido ao diferente arranjo espacial das moléculas (isomeria).
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Oligossacáridos
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Estes glícidos resultam da
ligação de um número reduzido de monómeros (2 a 10) e são vulgarmente
conhecidos por açúcares por serem doces e solúveis em água.
De acordo com o número de
monossacarídeos que contêm, designam-se por dissacáridos (2 como por exemplo,
lactose, maltose ou sacarose, os mais importantes e todos isómeros de fórmula
química C12H22O11. Note-se a 'falta' de dois
átomos H e de um O devido à condensação que resulta da formação da
ligação glicosídica), trissacáridos (3 como por exemplo, rafinose),
tetrassacáridos (4 como por exemplo a estaquinose), etc. Os oligossacáridos
são as formas de transporte dos glícidos.
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Formação
de lactose, um dissacárido, através da união da galactose e da glose
por uma ligação glicosídica |
Os monossacáridos que formam um
oligossacárido unem-se entre si através de ligações glicosídicas,
donde resulta a formação de uma molécula de água.
Os dissacáridos mais
importantes, como já foi referido, são:
- Sacarose -
extraída da cana-de-açúcar ou da beterraba, resulta da união através de
uma ligação glicosídica de glicose e frutose. A sacarose não é redutora
pois não apresenta nenhum átomo C ligado a um -OH livre, não sendo
detectada pelo Teste de Fehling;
- Maltose -
formada pela união de duas glicoses através da ligação glicosídica,
pode ser detectada pelo Teste de Fehling pois é redutora;
- Lactose -
formada pela união de uma glicose e uma galactose, também é redutora.
Compõe cerca de 5% do leite dos mamíferos, sendo um dos açúcares menos
doce e menos solúvel. Tem grande importância para o desenvolvimento dos
juvenis devido ao poder anti-raquítico e à necessidade de galactose para a
adequada formação das cartilagens e do tecido nervoso.
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Polissacáridos
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Os glícidos resultantes da união,
através de ligações glicosídicas, de número elevado de monossacáridos
(pelo menos várias centenas) designam-se polissacáridos e têm solubilidade
reduzida na água, não sendo doces.
Os polissacáridos podem ser
agrupados em dois conjuntos, ainda que ambos possam ter uma estrutura simples ou
ramificada:
- Homopolissacáridos
- formados por apenas um tipo de monossacárido, como o amido ou a
celulose, que são polímeros de glicose;
- Heteropolissacáridos -
formados por mais que um tipo de monossacárido, como as hemiceluloses ou as
gomas.
Dada a grande complexidade de
alguns dos polissacarídeos, a sua classificação faz-se com base na sua
função celular: polissacáridos de
reserva, onde se incluem o
amido ou o glicogénio, e polissacáridos estruturais, como a celulose ou
a quitina. Vejamos alguns exemplos:
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Grânulo de
amido visto ao MEV, revelando as camadas de deposição concêntricas em
volta do hilo |
- Amido
- é a forma de reserva de glícidos presente nas plantas, encontrando-se
geralmente sob a forma de grânulos (sintetizados no interior de amiloplastos)
cuja morfologia varia com a espécie. A
deposição do amido nos grânulos é feita em camadas concêntricas, a
partir de um ponto central chamado hilo. Trata-se
de um pó branco insolúvel em água fria mas que a quente forma uma
solução conhecida por cozimento de amido. Geralmente é composto por dois
polímeros:
- Amilose -
polímero não ramificado e linear, formado por ligações semelhantes
às presentes na maltose, o que leva a que tenda a enrolar-se em
hélice. Pensa-se que a característica reacção do amido com a água
iodada é devida ao facto de o iodo ficar retido no interior da hélice
por atracções entre cargas. Com o aquecimento a cor azul desaparece
pois a hélice desenrola-se mas volta a surgir após o arrefecimento;
- Amilopectina -
polímero ramificado, cada ramificação formada por cerca de 20
moléculas de glicose. As extremidades livres das cadeias estão
enroladas em hélice como na amilose, logo a amilopectina também cora
de azul em presença de iodo mas de forma menos intensa.
A razão amilose/amilopectina
varia geralmente entre 1:6 e 1:3, embora haja situações de uma total
ausência de amilopectina. A hidrólise laboratorial do amido, em água
acidulada, permite seguir a sua degradação em dextrinas, maltose e,
eventualmente, glicose.
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Comparação
entre a estrutura de alguns polímeros de glicose |
- Glicogénio - é
caracteristicamente o polissacárido de reserva nos animais, ainda que
também surja em fungos. É armazenado nas células musculares e do fígado
e tem uma estrutura muito semelhante à da amilopectina, ainda que com
cadeias mais curtas e mais fortemente ramificadas. É mais solúvel em água
quente que o amido e cora de vermelho com água iodada.
- Celulose - logo
a seguir à água é o composto mais abundante nas plantas. Trata-se de uma
molécula com função estrutural, não ramificada de grandes dimensões,
rígida e distendida o que leva a uma estrutura em forma de fibrilha. As
fibrilhas são formadas por conjuntos paralelos de mais de 2000 polímeros e
unem-se, por sua vez, em fibras. Estas formam a parede celular das células
vegetais.
- Quitina - é um
polissacárido estrutural presente em Artrópodes, onde forma o exosqueleto,
e em fungos, onde faz parte da parede celular. In vivo está sempre
associada a proteínas, o que a torna especialmente resistente.
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Lípidos
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A designação lípido utiliza-se
para designar um conjunto bastante heterogéneo de compostos, extremamente
diferentes entre si em termos de estrutura química e função biológica, que
pouco mais têm comum que uma reduzida solubilidade em água e uma solubilidade
em solventes orgânicos (éter, clorofórmio, benzeno, acetona, álcool, etc.).
O termo lípido também implica, muitas vezes, o facto de poder ser utilizado
pelos animais como fonte de energia.
A reduzida solubilidade dos
lípidos em água resulta de as suas moléculas serem essencialmente
hidrocarbonadas, ou seja, altamente hidrofóbicas. Tal como os glícidos,
também os lípidos são formados apenas por carbono, oxigénio e hidrogénio.
Existem várias categorias de
lípidos, de acordo com a função que desempenham:
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Reacção
de esterificação com formação de um triglicérido, que é armazenado
nos animais no tecido adiposo |
- Glicerídeos -
também conhecidos por glicéridos, estes lípidos são ésteres do álcool
glicerol e de ácidos gordos. Esta reacção de síntese de glicéridos
designa-se esterificação, devido à formação de ligações éster
entre os radicais -OH e -COOH. Os ácidos gordos que compõem um glicérido
podem ser todos iguais mas geralmente são diferentes e é precisamente a
sua natureza que determina as propriedades do lípido, sendo o factor mais
importante o grau de saturação das moléculas.
Os ácidos gordos são
lineares, apesar da disposição em zig-zag da parte hidrocarbonada,
mas quando surgem ligações duplas a molécula fica imediatamente
encaracolada. Assim, cadeias de ácidos gordos saturados ficam mais
ordenadas e rígidas, originando gorduras, glicéridos sólidos à
temperatura ambiente. Os ácidos gordos insaturados têm uma estrutura mais
espaçada, originando óleos, glicéridos líquidos à temperatura
ambiente.
Os glicéridos são lípidos
de reserva em plantas e animais, nestes últimos acumulando-se em células
especiais (adipócitos) ou em depósitos subcutâneos que funcionam como
protecção contra o frio e os golpes mecânicos.
- Ceras - também se
trata de ésteres de álcool e ácidos gordos mas neste caso com álcoois de
cadeia longa, como por exemplo, o álcool cetílico. As ceras são compostos
reactivos e impermeáveis, pelo que não funcionam como reserva mas antes
como protecções, especialmente em plantas, contra a desidratação das
estruturas. A cera das abelhas também pertence a esta categoria de
lípidos.
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Alguns
esteróides de importância biológica, nomeadamente o colesterol e a
forma como torna as membranas mais flexíveis, e algumas hormonas
sexuais esteróides |
- Esteróides -
completamente diferentes, do ponto de vista de estrutura química, dos
anteriores, este lípidos têm uma estrutura cíclica complexa e funções
reguladoras. Fazem parte das membranas (colesterol), circulam no sangue dos
animais (hormonas esteróides, como a testosterona ou a progesterona), são
vitaminas ou pigmentos fotossintéticos (carotenóides) entre muitas outras situações.
- Fosfolípidos - como o
seu nome indica, trata-se de lípidos que apresentam fósforo na sua
composição. Ao contrário dos lípidos anteriores, estes desempenham
exclusivamente um papel estrutural, sendo o componente base das membranas
celulares.
São ésteres de glicerol,
mas neste caso apenas duas das ligações do álcool estão esterificadas
com ácidos gordos, a terceira ligação está sempre esterificada com
ácido fosfórico.
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Estrutura química e
representação de um fosfolípido |
Este, por sua vez, está
ligado a uma amina ou a um outro álcool. Os fosfolípidos têm uma
estrutura fortemente assimétrica: um extremo hidrocarbonado formado pelos
ácidos gordos apolar e hidrofóbico, e um extremo com o grupo
fosfato polar e hidrofílico. Esta assimetria designa-se anfipatia
e é uma propriedade que permite aos fosfolípidos formar espontaneamente
micelas (esfera formada por fosfolípidos organizados lado a lado com as
caudas para dentro e as cabeças para fora, em contacto com a água).
Assim, os fosfolípidos
dissolvem-se em água mas não formam soluções homogéneas pois as micelas
têm cargas negativas à superfície e repelem-se mutuamente. Por este
motivo os fosfolípidos são detergentes naturais, a cauda apolar liga-se
às gorduras e seguidamente forma-se uma micela com a gordura ao centro.
Agitação mecânica arrasta a gordura e o detergente.
Certamente, no entanto, a sua
mais importante função a nível biológico é a capacidade de formar mono
e bicamadas membranares, a base da construção das membranas biológicas.
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Prótidos
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Os prótidos são os constituintes
essenciais de numerosos tecidos vivos e estruturas por eles produzidas, sejam
vegetais ou animais, como a pele, os músculos, cabelos, seda, lã, etc., para
além de terem um importante papel nos processos metabólicos. Ao contrários
dos anteriores tipos de biomoléculas, cuja principal função era energética,
os prótidos são essencialmente estruturais e enzimáticos.
Nos prótidos a ordem pela qual
os monómeros (que são bem mais numerosos que nos glícidos ou ácidos
nucleicos) se encontram é fundamental, o que as torna capazes de desempenhar
funções específicas.
Os monómeros dos prótidos, os aminoácidos,
contém carbono, oxigénio, hidrogénio e azoto, este último geralmente
presente sob a forma de gás na atmosfera. Apenas alguns microrganismos são
capazes de captar o azoto gasoso e incorporá-lo em compostos orgânicos
(nitritos e nitratos) que as plantas retiram do solo. De seguida, os vegetais
incorporam o azoto nos seus aminoácidos. Os animais são capazes de sintetizar
alguns aminoácidos aproveitando o azoto retirado de proteínas que ingerem, mas
existem alguns que não conseguem produzir e que se dizem aminoácidos
essenciais: lisina, triptofano, treonina, meteonina, fenilalanina, leucina,
valina e isoleucina, no caso humano. Um aminoácido também contém enxofre, a cisteína.
Tal como no caso dos glícidos,
existem três categorias de prótidos, de acordo com a sua complexidade
estrutural:
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Estrutura
base de um aminoácido (o radical -R é que varia para originar os cerca
de 20 aminoácidos conhecidos) e a formação da ligação peptídica
com libertação de água |
- Aminoácidos - estes
monómeros são derivados de ácidos carboxílicos em que um dos
hidrogénios foi substituído por um grupo amina. O radical -R varia entre
os cerca de 20 aminoácidos que são conhecidos e que podem ser agrupados
nas seguintes categorias:
- aromáticos -
apresentam na sua constituição um anel aromático com 6 carbonos
(benzeno);
- heterocíclicos -
apresentam na sua estrutura outro tipo de anéis aromáticos, diferentes
do benzeno;
- alifáticos - o
radical é composto por cadeias hidrocarbonadas.
Os aminoácidos nunca se
apresentam com estrutura neutra em solução, estão sempre ionizados da
forma que se observa na figura ao lado, com um excesso de cargas positivas
na extremidade amina e um excesso de cargas negativas na extremidade
carboxilo. Pensando numa definição de ácido (dador de H+) e de
base (receptor de H+), é fácil perceber que o pH de uma
solução afecta o grau de ionização dos aminoácidos e a estrutura que
eles originam.
- Péptidos - uma
importante propriedade dos aminoácidos é a capacidade de polimerizarem
através da ligação peptídica que une um grupo amina a um grupo
carboxilo, libertando água. Assim, como se pode observar na figura acima,
os polímeros resultantes (péptidos) apresentam sempre duas extremidades
distintas, uma amino e uma carboxilo. Os péptidos não têm uma forma plana
mas antes em zig-zag, ainda que o efeito total seja linear. Os
péptidos têm, de modo geral, algumas dezenas de aminoácidos unidos por
ligações peptídicas.
- Polipeptidos ou proteínas
- de modo geral considera-se uma proteína quando existem mais de 50
aminoácidos. Estas moléculas são geralmente de grandes dimensões, sendo
as maiores conhecidas as hemocianinas com peso molecular de 9x106
e as do vírus da gripe com 320x106 . As proteínas podem ser
agrupadas em dois grandes conjuntos:
- proteínas simples
- formadas apenas por cadeias polipeptídicas, uma ou várias;
- proteínas conjugadas
- formadas por uma ou mais cadeias polipeptídicas associadas a outras
substâncias conhecidas por grupos prostéticos, podendo assim
originar-se fosfoproteínas, lipoproteínas, glicoproteínas,
metaloproteínas, etc.
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Níveis
de organização de uma proteína |
As proteínas são muito
diversificadas pois os 20 aminoácidos podem estar presentes em percentagens
muito variáveis e em sequências muito distintas.
As ligações
peptídicas entre aminoácidos não são as únicas presentes nas
proteínas, existem ligações secundárias entre radicais ionizados de
alguns aminoácidos, que determinam formas específicas para cada proteína.
Assim, distinguem-se vários níveis de organização nas proteínas:
-
estrutura
primária - corresponde à sequência de aminoácidos na cadeia
polipeptídica;
-
estrutura
secundária - as proteínas não formam cadeias lineares de
aminoácidos mas antes enrolam-se e dobram-se sobre si próprias. Do
esqueleto formado pelos sucessivos grupos amino e carboxilo ligados por
ligações peptídicas surgem ligações secundárias por pontes
hidrogénio que originam duas estruturas distintas: a hélice alfa
(característica de proteínas ditas globulares como a hemoglobina) e a folha
pregueada beta (características de proteínas ditas fibrosas, como
a queratina ou a miosina);
-
estrutura
terciária - nas proteínas globulares, ao contrário das fibrosas
de estrutura alongada, as cadeias enrolam-se ainda mais sobre si
próprias, originando uma estrutura esférica ou elipsoidal. Estas
dobras são mantidas em posição por ligações entre os diversos
radicais -R dos aminoácidos. Dado que estas forças são fracas, podem
ser facilmente quebradas originando a desnaturação da proteína
e a perda de actividade biológica;
-
estrutura
quaternária - neste caso, a proteína é formada por mais do que
uma cadeia polipeptídica ou subunidade, cada uma incapaz de realizar a
função do todo.
As proteínas têm várias funções
biológicas e uma das mais importantes é a catálise. Nem todas
as proteínas são capazes de catalisar reacções mas todos os
catalisadores biológicos (enzimas) são proteínas. Muitas proteínas regulam
as funções celulares, através do controlo da actividade enzimática ou
por serem hormonas. Proteínas específicas chamadas anticorpos ou
imunoglobulinas, têm uma função de defesa, impedindo que invasores
destruam o tecido vivo.
Outras proteínas transportadoras
permitem que substâncias pouco solúveis (metais, lípidos, oxigénio,
dióxido de carbono, etc.) que têm que circular através do sangue possam
atingir as células. Proteínas de suporte mantêm a estrutura das
células e tecidos, como o colagénio nos tendões e ossos, a reticulina e a
elastina nos vasos sanguíneos, actina e miosina nas células musculares,
etc. As alfa e beta-queratinas são proteínas de revestimento,
formando os pêlos, lã, cabelos, penas, bicos, escamas, cascos, armações,
etc. A função de reserva surge em sementes (cereais ou leguminosas,
por exemplo) ou em ovos de animais (albumina na clara e vitelina na gema) ou
no leite (caseína e lactalbumina). Também existem proteínas nos líquidos
lubrificantes das articulações animais e nas toxinas
produzidas por animais e bactérias.
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Enzimas: proteínas com
função catalítica
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É sabido que a maioria dos
compostos orgânicos são altamente estáveis em soluções aquosas, a
temperaturas e pH semelhantes aos da célula. Por esse motivo, mesmo quando as
reacções são exergónicas, as reacções com biomoléculas geralmente não
ocorrem espontaneamente.
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Acção das
enzimas na redução da energia de activação de uma reacção |
Para que elas ocorram é
necessário formar um complexo activado, obtido fornecendo energia de
activação, ou seja, fazendo colidir com um mínimo de energia as moléculas
envolvidas. A 20ºC poucas são as moléculas que colidem com energia suficiente
mas se a temperatura for de 100ºC muitas mais realizaram a reacção de forma
mais rápida. É este o princípio por trás da utilização de aquecimento e
ácidos ou bases fortes por parte dos químicos para realizar as suas
reacções.
No entanto, na célula esta
situação não é viável e ainda assim as reacções rápidas a temperaturas
baixas (entre os 10 e os 40ºC), com pH neutro ou perto disso, à pressão
atmosférica, etc. O motivo porque tal é possível reside no facto de existirem
na célula catalisadores biológicos chamados enzimas,
específicas para cada reacção e capazes de controlar a sua velocidade.
Apesar de as enzimas terem uma
tremenda capacidade catalítica não são mágicas, elas apenas aumentam a
velocidade da reacção, não alteram o seu ponto de equilíbrio e sem
desencadear reacções que não fossem já possíveis.
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Enzimas: estrutura
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As enzimas são
proteínas globulares, apresentando uma estrutura terciária e quaternária. Por
esse motivo, podem ser desnaturadas, reversível ou irreversivelmente.
É sabido que nem
todos os aminoácidos constituintes de uma proteína estão directamente
envolvidos na sua actividade biológica. No caso das enzimas chama-se centro
activo ao conjunto de aminoácidos envolvidos na catálise. Por este motivo,
existem as chamadas isozimas, ou seja, enzimas com estrutura
tridimensional diferente mas com o mesmo centro activo.
Muitas enzimas
necessitam de componentes não proteicos para actuarem, componentes esses que se
designam coenzimas e grupos prostéticos. As coenzimas são
substratos absolutamente necessários à reacção catalisada, logo, como todos
os substratos alteram-se durante a reacção. Para reverter a coenzima ao seu
estado inicial é necessária outra reacção, como no caso das transformações
verificadas em moléculas transportadoras de electrões: NAD+ >
NADH. Já os grupos prostéticos permanecem inalterados durante a
reacção, fazendo antes parte do centro activo. Geralmente os grupos
prostéticos são formados por metais.
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Enzimas: modo de actuação
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O primeiro passo
da actuação enzimática é a combinação reversível de enzima com o
substrato sobre o qual actua, originando o complexo enzima-substrato.
Após as transformações químicas terem sido realizadas (sínteses ou
degradações), os produtos separam-se da enzima, deixando-a inalterada. Esta
reacção pode ser representada pela equação:
E + S =>ES
=>E + P
Dado que o
substrato se liga à enzima através do centro activo, que, em último caso, é
modelado pela estrutura primária da proteína, pode compreender-se a
especificidade revelada pelas enzimas:
A especificidade
está pode ser relacionada com os modelos de acção enzimática, ainda que não
se esgote neles:
-
modelo de
Koshland ou do encaixe induzido - neste modelo de acção enzimática a
enzima é vista como uma estrutura maleável, a nível do centro activo,
alterando-se quando em presença do substrato, de modo a que este se ajuste
ao centro de reacção. Este modelo tem associada a possibilidade de regulação
alostérica, ou seja, as enzimas nesta situação têm não um mas dois
centros activos. O segundo centro de reacção, o chamado centro
alostérico, tem uma localização diferente da do centro de reacção
principal e a ele vai ligar-se uma molécula reguladora. Essa ligação
provoca uma alteração de forma do centro activo, permitindo ou impedindo a
ligação do substrato;
-
modelo de
Fischer ou da chave-fechadura - este modelo de acção enzimática
considera que a enzima é uma estrutura rígida e inalterável, à qual o
substrato se ajusta por complementaridade.
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Enzimas: factores que
afectam a velocidade de reacção
|
Existem vários
factores que afectam a velocidade de reacção de uma enzima:
-
concentração
da enzima - mantendo constante a concentração de substrato, quanto
maior a concentração de enzima maior será a velocidade de reacção;
-
concentração
do substrato - para concentrações baixas de substrato, e mantendo
constante a concentração enzimática, há uma proporcionalidade directa
entre a concentração de substrato e a velocidade de reacção. No entanto,
para concentrações elevadas de substrato a velocidade estabiliza pois há saturação
dos centros activos;
-
pH -
as enzimas apenas são activas num intervalo restrito de pH, havendo um
valor de actividade máxima designado pH óptimo. O valor de pH
óptimo geralmente é próximo do neutro mas depende da enzima. O efeito do
pH deve-se à alteração do estado de ionização dos componentes da
enzima, nomeadamente a alteração de cargas pode levar à perda de
estruturas superiores (desnaturação), a alteração da orientação de
cargas no centro activo pode impedir a ligação ao substrato (que é feita
essencialmente por atracção de cargas) ou a ionização do substrato pode
impedir o seu encaixe no centro activo;
-
temperatura
- este parâmetro exerce dois efeitos perfeitamente antagónicos nas
reacções enzimáticas: aumenta a velocidade de reacção pois fornece
energia de activação às moléculas, favorecendo a formação do
complexo enzima-substrato, que, como já se viu, é a fase crítica da
reacção. No entanto, a partir dos 50ºC (para a maioria das enzimas) as
moléculas enzimáticas começam a ser desnaturadas. A conjugação destes
dois efeitos define a temperatura óptima para a enzima, o ponto de
equilíbrio entre os dois fenómenos;
-
inibidores
- trata-se de substâncias que interferem com a actividade enzimática,
bloqueando o processo catalítico. Existem dois tipos de inibidores:
-
inibidores
irreversíveis - ligam-se à enzima bloqueando-a permanentemente de
forma irreversível. São disso exemplo os gases dos nervos usados na
segunda guerra mundial, que inibem uma enzima do sistema nervoso
central;
-
inibidores
reversíveis - têm actuação temporária, a enzima recupera a sua
acção quando o inibidor é removido, como por exemplo o ácido
cianídrico ou cianeto HCN, que inibe a respiração celular. Também os
inibidores reversíveis podem ser de dois tipos:
-
inibidores
competitivos - a molécula de inibidor e do substrato competem
entre si pela ligação ao centro activo da enzima. Estes inibidores
são substâncias semelhantes ao verdadeiro substrato da enzima;
-
inibidores
não competitivos ou alostéricos - neste caso, a enzima liga-se
simultaneamente ao substrato e ao inibidor logo este último tem que
se ligar num local diferente do centro activo, o centro alostérico.
No entanto, esta ligação altera a configuração tridimensional da
enzima, impedindo a ligação do substrato ao centro activo e
reduzindo a velocidade de reacção. Salienta-se que neste caso, a
substância alostérica pode ser tanto um inibidor como um
activador.
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Classificação das enzimas
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O nome das
enzimas obtém-se acrescentando -ase ao nome do substrato sobre que
actua. Seguidamente, serão agrupadas de acordo com o tipo de reacção que
catalisam, tendo-se:
-
hidrolases
- desdobram substâncias por reacção com a água: A + H2O =>
B + C . São exemplo as osidases, lípases, protéases, etc.;
-
oxirredutases
- catalisam reacções redox: Ared + Box =>
Aox + Bred . São exemplo as enzimas:
-
desidrogenases
- removem hidrogénio do substrato;
-
oxidases
- removem hidrogénio e entregam-no ao oxigénio, originando água;
-
hidrogenases
- incorporam hidrogénio no substrato, ou seja, reduzem-no;
-
oxigenases
- incorporam oxigénio no substrato, ou seja, oxidam-no;
-
descarboxilases
- retiram CO2 de ácidos carboxílicos;
-
isomerases
- catalisam a formação de isómeros, ou seja, alterações à forma da
molécula sem entrada ou saída de átomos;
-
ligases
- unem dois substratos;
-
liases
- degradam
substâncias, sem que haja hidrólise.
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Ácidos nucleicos
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Estrutura comparativa do
DNA e RNA |
A designação de ácidos nucleicos
surgiu devido ao facto de as primeiras moléculas deste tipo terem sido
detectadas no núcleo das células. Actualmente sabe-se que estas moléculas
não existem apenas no núcleo mas também noutras zonas da célula, ainda que a
designação tenha sido mantida.
Os ácidos nucleicos existem em
todos os seres vivos, sendo os responsáveis e os coordenadores da informação
genética e hereditária dos organismos. Os ácidos nucleicos englobam dois
tipos de molécula, diferença que deriva dos diferentes monómeros usados na
sua formação (desoxirribonucleótidos ou ribonucleótidos):
- ácido desoxirribonucleico
(DNA) - encontra-se no núcleo das células, onde forma os cromossomas,
e nos cloroplastos e mitocôndrias;
- ácido ribonucleico (RNA) -
encontra-se essencialmente no citoplasma e dele existem três tipos: ribossómico,
de transferência e mensageiro.
Os ácidos nucleicos são as
maiores moléculas presentes nas células mas são formadas por um número
espantosamente reduzido de monómeros, ditos genericamente nucleótidos.
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Nucleótido
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A principal diferença entre os
monómeros das restantes biomoléculas e os nucleótidos é o facto destes
últimos ainda poderem ser hidrolisados em três constituintes complexos:
- grupo fosfato - ácido
fosfórico geralmente ionizado;
- pentose - glícido
monossacárido com cinco carbonos;
- base azotada.
Ainda assim, este facto não
invalida a sua classificação como monómeros pois estes três compostos já
não podem ser considerados ácidos nucleicos, ainda que sejam mais do que
átomos.
As principais bases azotadas constituintes
dos ácidos nucleicos são a adenina, citosina, guanina, timina e uracilo. Estas
bases são agrupadas em purinas (adenina e guanina) e pirimídicas (citosina,
timina e uracilo), conforme derivem da purina ou da pirimidina. Alguns animais
também usam a guanina como pigmento reflector, como nas escamas dos peixes ou
nas carapaças dos insectos.
Além destas cinco bases azotadas
existem bases mais raras, delas derivadas e que geralmente têm efeitos no SNC
como venenos poderosos quando em quantidade elevada. Estão presentes no chá,
no café ou no cacau mas não fazem parte dos ácidos nucleicos.
A pentose também pode ser de
dois tipos: desoxirribose ou ribose, que diferem apenas na presença de um grupo
-OH extra no segundo caso. Ambos os monossacáridos são aldoses.
Quando se une um glícido a uma
base azotada obtém-se um nucleósido. O nucleótido funcional resulta da união
do ácido fosfórico, através de uma ligação éster (ácido com carboxilo).
Todos os nucleótidos podem estar ligados não apenas a uma molécula de ácido
fosfórico mas a duas ou mesmo três. Assim, teremos:
Base |
(desoxi)ribonucleósido |
(desoxi)ribonucleótido-monofosfato |
abreviatura |
adenina |
adenosina |
adenosina-monofosfato |
AMP |
ADP |
ATP |
guanina |
guanosina |
guanosina-monofosfato |
GMP |
GDP |
GTP |
uracilo |
uridina |
uridina-monofosfato |
UMP |
UDP |
UTP |
citosina |
citidina |
citidina-monofosfato |
CMP |
CDP |
CTP |
timina |
timidina |
timidina-monofosfato |
TMP |
TDP |
TTP |
Os nucleótidos-trifosfato
desempenham importantes funções celulares:
- o ATP é o principal
transportador de energia na célula pois a separação dos diversos grupos
fosfato liberta grande quantidade de energia;
- o ATP é uma coenzima
essencial a muitas reacções celulares;
- nucleótidos-trifosfato são a
forma usada na síntese enzimática dos ácidos nucleicos.
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Temas
relacionados:
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Ácidos
nucleicos Hereditariedade
Células
Fotossíntese
Respiração
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